segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Trilogia.

Nós deveríamos ter sete ou oito anos. Ele era um dos meus melhores amigos - corríamos, chutávamos e jogávamos sujeira pela janela do "Velho Mijão". E, olhe só, ele dançava ballet! - e naquele dia tudo estava correndo como em qualquer outro. A não ser pelo fato de que nós sempre brincávamos com as outras crianças, e desta vez ele queria brincar só comigo. Saímos correndo e ele disse que tinhamos que ir até um lugar secreto, pois ele tinha um segredo para me contar. Eu esperava algo como segredos da fada do dente ou do monstro da melancia, mas logo notei que pelas feições dele o assunto deveria ser sério. "Vamos lá atrás do bloco cinco!" - disse ele. E eu fui. Mas haviam umas crianças brincando lá. "Droga!" - disse ele - "Não pode ser aqui." Corremos até o outro bloco. O três, eu acho. Aí ele me mandou sentar e começou a andar em círculos. Ficou calado por um tempo, e logo disse algo como "Vamos namorar?" assim mesmo, rápido e direto. Como um tiro. A minha resposta automática foi dizer não. Então ele insistiu "Eu caso com você." E eu neguei mais uma vez. Lembro que me pus a pensar que se casássemos ele poderia querer me bater, como havia feito no dia anterior, quando ganhei dele no caçador. Para crianças éramos bastante maduros. Ele estava me pedindo em casamento e eu pensando em violência doméstica. Neguei mais uma vez e fui correndo para casa. Lembro que passei como um raio pela minha mãe, que tratava do jardim. Me tranquei no quarto. Não lembro de já ter escutado Sady & Junior - naquela época eu gostava de Red Hot Chilli Peppers - Mas posso lembrar de que tinha um calendário com a foto do Junior, que caiu instantâneamente no chão. Fiquei nervosa e chorei. Eu gostava muito dele e, em duas semanas, ele se mudou.

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Ele era um grande amigo. Tanto que o apelido dele era gordo. Começou sendo amigo do meu irmão mais novo, depois o meu. Eu chamava ele para brincar todos os dias. Nesta época eu deveria ter uns dez anos, e ele uns nove. Um dia estávamos em uma batalha épica de guerra de areia no parquinho. Minha base já havia sido parcialmente destruida, minhas bolas de areia molhada - as mais potentes - estavam acabando. Então a mãe dele me chamou em um canto e perguntou se estávamos "ficando". Eu tinha dez anos e estava ficando com ele sim. Ficando furiosa por ele ter jogado areia no meu cabelo. Me despedi e fui correndo para casa. Me tranquei no meu quarto, fiquei nervosa e chorei. Os bolsos do meu Shorts estavam cheios de areia, e ela acabo sendo transferida para o meu edredom. Naquele dia, minha mãe brigou comigo e me ensinou a varrer.

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Ele não era nada. Talvez amigo de algum antigo amigo meu. Eu tinha treze anos, e não faço ideia da idade dele. Naquela época eu só saia para levar o lixo, ficava trancada dentro de casa vinte-e-quatro-horas-por-dia-sete-dias-por-semana-trezentos-e-sessenta-e-cinco-dias-por-ano. Aconteceu em um dia normal. Eu estava levando o lixo, quando uma guria - que eu odiava - me parou no meio do caminho. "Sabe aquele menino alto?" - disse ela. "Acho que sim." "Então, ele quer ficar com você, ele não está apaixonado nem nada, mas quer. Topa?" Naquela hora pensei algo como "Para que diabos esse piá quer ficar comigo se não está apaixonado? Qual é o sentido disto?" Disse que não queria. Ela insistiu algumas vezes, mas me manti insolúvel. Disse tchau e fui para casa. Desta vez não me tranquei no quarto, nem fiquei nervosa. Encaminhei-me para a cozinha. Meus pais já estavam chegando e eu ainda não havia lavado a louça.

Um comentário:

Praguejento disse...

gostei do blog.

:)

e gostei do nome do perfil tbm.