quarta-feira, 13 de março de 2013

João Guimarães Rosa

“Substancia
(...) A alumiada surpresa.
Alvava.
Assim; mas era também o exato, grande, o repentino amor - o acima. Sionésio olhou mais, sem fechar o rosto, aplicou o coração, abriu bem os olhos. Sorriu para trás.
Maria Exita. Socorria-a a linda claridade. Ela -ela! Ele veio para junto. Estendeu também as mãos para o polvilho - solar e estranho: o ato de quebrá-lo era gostoso, parecia um brinquedo de menino. Todos o vissem, nisso, ninguém na dúvida. E seu coração se levantou.
- "Você, Maria, quererá, a gente, nós dois, nunca precisar de se separar? Você, comigo, vem e vai?" Disse, e viu. O polvilho, coisa sem fim. Ela tinha respondido:
- "Vou, demais". Desatou um sorriso. Ele nem viu. Estavam lado a lado, olhavam para a frente. Nem viam a sombra da Nhatiaga, que quieta e calada, lá, no espaço do dia.
Sionésio e Maria Exita - a meios-olhos, perante o refulgir, o todo branco. Acontecia o não-fato, o não-tempo, silêncio em sua imaginação. Só o um-e-outra, um emsijuntos, o viver em ponto sem parar, coraçãomente: pensamento, pensamor. Alvor.
Avançavam, parados, dentro da luz, como se fosse no dia de Todos os Pássaros.(...)” 

- Substância, "Primeiras Estórias, João Guimarães Rosa.


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