terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Do cotidiano.

Eu estava apressada.
Dia cinza, chuvoso, gelado. Correria de um lado para o outro. Só mais um médico. Só mais uma consulta. Só mais um resultado. O último (do dia).
E eu só queria pegar meu café quentinho e ir embora dali. Meu casaco comprido (não demais. Um pouco acima dos joelhos, bom para esquentar) totalmente molhado. O guarda chuva vermelho aberto, a sapatilha cheia d'água. E eu correndo.
A bolsa pendia no ombro, despreocupada, escorregando, enquanto eu lutava para manter a sombrinha sobre a cabeça, enquanto esforçava-me para manter o café tampado. Ele cozinhava meus dedos, porém meu corpo era gelado.
E meu coração era quente.

Foi quando aquelas duas moças me pararam. A mais nova, que não deve somar mais de vinte anos no RG, desfilava uma barriga enorme. Com um bebêzinho se formando, lá dentro. Estava com as mãos geladas, estava na chuva. E estava grávida. A mais velha, deveria ser a mãe, futura avó, estava com um papel em mãos. Perguntou-me sobre o endereço de uma rua. Franzi a testa ao afirmar que o endereço ficava a mais de três quilômetros dali. "Minha senhora, estamos quase na Praça do Japão. Este bairro aqui chama-se Batel. Vocês precisam ir até o centro." Emparelharam-se, abrigando-se da chuva. "Mas é tão longe assim, moça?". Senti um incômodo. Era muito longe. Estava frio. Estava chovendo. "É bastante longe sim. Calculo uns três, quatro quilômetros." "E a Rui Barbosa, é aqui perto?". Não era. Era ainda mais longe. "É longe sim. Faz o seguinte, desce mais umas duas quadras e pega um ônibus até lá. É um amarelinho. Nessas horas vocês conseguem ir sentadas!". Elas se entreolharam e sorriram. Me agradeceram ainda meio tímidas. Eu já estava encharcada. Meus ombros escorriam água. Meu café estava frio. "Obrigada, mocinha. Que Deus te abençoe." "Vão com Deus e se cuidem com essa chuva!" "Obrigada, querida! Que você tenha um feliz natal e todos os seus desejos se realizem." Elas viraram e atravessaram a rua. Eu ajeitei os óculos e corri para aproveitar o sinal de pedestres aberto.

Meu corpo era gelado.
E meu coração era muito, muito quente.

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