quarta-feira, 21 de abril de 2010

Da série: Diálogos intermináveis.

- Andei pensando em cortar o cabelo, que tu acha?
- Sei lá, gosto dele assim.
- Então não corto?
- Não.
- Mas aí ele vai crescer e deixar de ser assim. Uma hora vou ter que cortar.
- Então corta.
- Agora?
- Na hora que você quiser.
- Mas se eu cortar agora ele vai deixar de ser assim.
- Mas eu gosto dele assim.
- Pois é.
- Então corta noutra hora.
- Acho que sim. Não quero que ele fique muito comprido.
- Gosto dele curto.
- Curto assim ou mais curto?
- Curto assim.
- Bom, porque se fosse mais curto eu teria que cortar.
- Ahãm.
- É, gosto dele assim também, eu acho.
- Agora, enquanto ele for assim, você vai lembrar de mim.
- Vou.
- Droga, mas ele só vai ser assim até crescer e você cortar. Aí não vai mais ser esse cabelo... E se você não cortar também não vai ser assim.
- Tem razão.
- E agora?
- Agora eu não sei...
- Tenho medo de ir cortar e a mulherzinha cortar errado. Essas mulherzinhas raramente vão com a minha cara.
- Eu vou com você e encaro ela, aí ela fica com medo e faz tudo certinho.
- Jura?
- Juro.
- O que me lembra que eu tenho de ir tomar a vacina da tal gripe, e eu meio que tenho medo.
- Quer que eu vá com você?
- Aí você encara a mulherzinha e manda ela enfiar a agulha bem devagar?
- Não, aí eu seguro tua mão.

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